Betty
Sinto-me triste, "eras apenas" uma coelha felpuda e barulhenta, que adorava festas e detestava colo. Mordias cada vez que te pegavamos ao colo e reclamavas com quem não conhecias por te tentarem agarrar. Costumávamos brincar que rosnavas como um cão e batias as patas cada vez que te vias contrariada. Foste o bicho que mesmo o teu dono não querendo o conquistou e que ontem me repetia enquanto chorava, que era por isto que não queria nenhum animal de estimação. Já me disse que não vamos ter mais animais. Mas eu sei que independentemente de nos custar não te ter aqui fomos infinitamente mais felizes contigo e com as tuas esperas atrás da porta. Barulhenta até mais não, o habito é tanto que ontem quando cheguei á cama ainda me parecia ouvir o barulho que fazias com a gaiola todas as noites.
Acredito que tives-te o melhor que te poderíamos ter dado, tives-te sorte de naquela tarde e perante a teimosia do teu dono, ele tenha optado por vir pela Nacional, encontrado a tia, parado para lanchar e que perante a minha teimosia tenhas vindo, numa caixa de sapatos, do Alentejo até Massamá. Eras tão pequenina que vies-te a tentar perceber o que se passava sem nunca teres saído da caixa.
Esperas-te que fossemos embora de casa para partires, ficas-te com a gaiola lavada, água e comida e nós com a certeza de que enquanto estives-te viva fizemos o melhor por ti. Ou pelo menos a esperança disso, podiamos ter-te levado ao veterinário mas não sabíamos que estavas doente e quando o percebemos já não iriam fazer nada por ti.
Que haja um Céu para coelhinhos como tu, minha querida Betty!